sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O passar das horas eternas

Atendendo a pedidos, o tema será poesia, e em homenagem a este momento de virada de ano (que ao meu ver é apenas “um dia após o outro” que finaliza um ciclo e desencadeia um novo), apresento à vocês uma poesia que fiz há um certo tempo atrás.


O passar das horas eternas

Sono na inquieta primeira noite de janeiro.
Rumores correm à cidade sobre o paradeiro
Da última quimera de dezembro
– Onde ela está? – Diz o poeta: “nem me lembro”!

O desespero corre a solta!
De lado a lado rumam os desejos.
Sinos na cidade revolta,
Malucos distribuindo beijos.

Todos se matam atropelados.
Presságios de uma cidade morta,
Deixando desesperados
Os que seguem o profeta da palavra torta.


Marcos Fernandes


É certo que poesias não se explicam, que me perdoem os ótimos professores de literatura que tive, e aos que não tive também e cumpriram tão bem o seu dever, mas ainda assim direi algo sobre esta poesia, não sobre em que movimento literário ela se enquadra, ou qual a fonte de inspiração, ou qualquer outro tipo de qualificação ou classificação... A poesia retrata uma cena de fim de mundo, as profecias que são feitas a respeito, e que dizem que este será na virada do século passado, neste, ou no próximo... E que no final das contas, o mundo não acaba, ao menos não assim catastroficamente como rezaram os pergaminhos. O mundo vai se acabando aos poucos, com os seus próprios inquilinos, que não percebem o que fazem, e preferem seguir as “palavras tortas de um profeta”. É a representação total da discrepância entre o verdadeiro e o falso.

3 comentários:

  1. Muito bom poema. Me remeteu a algumas passagens de ano, de quando eu mais jovem, quero dizer... quando eu jovem... um velho não pode se sentir menos jovem... quando eu eram menos jovem já tem muito tempo... hehehe
    Mas voltando ao assunto, seu poema me remeteu à algumas passagens de ano em que corria de um lado para o outro no afã de cumprimentar pessoas em diferentes residências, mas com o mesmo grau de importância,tendo que faze-lo obrigatpriamente antes da 00:00 hora, como se o não cumprimento dos cumprimentos obrigatoriamente dentro desse horário, maculasse de forma irreparável o destino de todos nós.
    Depois vieram as viradas de ano, em que profeticamente o mundo deveria acabar. Me recordo de pelo menos 03 delas, que ocorreram em seqüência... 1999, 2000 e 2001. 1999 porque alguns diziam que os noves (999) eram a representação da Besta Fera invertida (666). O mundo não acabou e a besta fera ficou desprestigiada. 2000 porque se dizia a virada do século. O mundo também não acabou, e ai a desculpa foi porque a virada do século era em 2001 e não em 2000, alguém que não sabe contar os séculos, como eu não sabia até conversarmos sobre isso, cometera esse engano, e por conta disso, nos empurrou mais 12 meses de angustia, e com a certeza de que no primeiro milésimo de segundo de 2001, sífu! Fiquei em dúvida em como me preparar para o fim do mundo. Como não sabia o que fazer, vesti uma roupa nova como nos finais de ano anteriores. Na verdade, uma bermuda nova... já que não faria muita diferença de ser uma calça,pois de que me serviria o tecidos das pernas, se o mundo iria acabar? Então optei por economizar. Mas com uma certa precaução de que a bermuda fosse pelo menos branca...O mundo não acabou, e eu fiquei com as pernas de fora.
    Hoje não corro mais para no desespero de cumprimentar as pessoas... algumas já cumprimento através de preces, e ai vc. tem razão quando diz que o mundo acaba aos poucos... parte do meu já se acabou com a partida de entes queridos. E de um certo tempo para cá, minha passagem de ano se dá dormindo um justo e merecido "sono na inquieta primeira noite de janeiro..."

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  2. hum que mara... adorei marquinhos muito bom vou colocar nos meus favoritos

    abraço

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  3. É engraçado como as coisas são relativas... e a partir de uma idéia são abertos vários leques de possibilidades de construção de imagens. Certamente a imagem que tinha em mente não comportava esta que você descreveu Lemos, mas com toda certeza condiz com as entrelinhas do poema. Mas sempre há tempo para a tomada de consciência, não a que eu acredito ser a certa para as pessoas, mas sim a que as pessoas acham que é certa para elas mesmas...

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