sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Demasiado desumano

Nada que eu possa falar vai tirar de mim este peso que me consome. Explicação nenhuma no mundo traduzirá o que não se traduz, o que não tem remédio e remediado nunca será. Nada nem ninguém a quem eu procure, tirará do meu peito essa dor, que dói por si só, e por mim mesmo. Minha culpa, minha tão grande culpa, e algo assim nada profetizado foi, não esperava que viesse a ser assim, deveras baixo, demasiado desumano. Assim como uma aventura vã, foi configurando-se uma história de candura, com todos os seus rumores e rubores, ou a falta deles. Mas com certeza fadada ao fracasso. Não há de existir algo de correto no que se inicia errado. Alguma pena deve existir à alguém que assim age, é certo que sim, fatídico e inefável.

A tristeza entra sem pedir licença. Invade avassaladoramente, arranca palavras e gestos, esmigalha sentimentos, arruína corações. Acontece em via dupla, de dentro para fora, de fora para dentro, ocupa todos os espaços vazios, esvazia os espaços preenchidos e os usurpa. Canal direto dos olhos ao coração, enxurradas de lágrimas. Força, coragem e ousadia esvaem-se junto ao pranto.

Sujeito se soubesse do sentimento sentido após seus atos, não os faria. E se fácil assim fosse, menos ainda os faria. Se tal qual profeta ou vidente fosse, e se assim fosse capaz de sentir antecipadamente o que outrora sinto, um terço que fosse, certamente meus atos não teriam sido desmedidos como foram.

E assim como embebedar-se por centelhas de vinho, dou goles de conformismo, mesmo sem querer que assim seja. Parte de mim pede para lutar, outra parte obriga-me à desistir. Resta saber qual parte de mim é maior, qual parte é mais forte. Quando souber do resultado da disputa, espero não ser tarde demais.

Será possível que as escusas existentes, e já catalogadas, bastariam para que pudesse então receber suas bênçãos? É certo que se assim fosse, denotaria ou conotaria talvez, que caso uma dessas desculpas fossem aceitas, fulgás seria, visto que todas as outras não aceitas, não menos fulgás seriam.
Marcos Fernandes - agosto de 2009.