terça-feira, 20 de outubro de 2009

Meu inferno, meu mundo

O caminho mais profundo
De encontro ao inóspito.
Um deserto imundo,
O mal feitor recôndito.

A mais horrível figura
Em imperfeita clausura,
Controlando desejo e ambição,
Conduzindo pensamentos
E os tormentos da sedução.

Da ternura ao pecado
Aquele sentimento imaculado
Levado ao terror.
O prazer do ciúme
Ocasiona horror
No mais alto cume.

O homem ignóbil
Tecendo retalho inconsútil
Com a linha quimérica
Do prazer vil
Que nem a si serviu.

Parte da América
E contagia o mundo
Tornando imundo
O transfigurado singelo.
Enquanto o nojo profundo
Corroe a face do belo,
O homem liberto
Prende-se no maior deserto,
Caminhando sobre sentimentos
Transformando-os em pedaços sebentos.



Marcos Fernandes

sábado, 17 de outubro de 2009

Sentimento

Que sentimento é esse que entra sem pedir permissão? Penetra sem pedir licença, sem ao menos saber se irá marcar ou machucar? Que cuidados ele tem quando se instala? O que podemos fazer além de sentir? O que nos cabe dizer ou fazer contra ou a favor?

Em que momento percebe-se que o que estamos sentindo por necessidade, vontade ou desejo? Como saber se é bom ou ruim? É certo que bom assim o é, e se diferente fosse, demasiado triste seria. A felicidade toma conta.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Reflexões

Momentos hão em minha vida em que sinto uma profunda necessidade de escrever. Escrever sobre tudo, mas o tudo se resume a nada diante da imensa pilha de sentimentos em minha cabeça. Dor, sofrimento, alegria, amor, todos eles atrelados uns aos outros, que me tomam à mente e ao pulso, que pulsam fervorosos pensamentos, que somente transcorrem em meu ser, fazendo um elo entre o que escrevo e o que penso. Cópia fiel dos meus pensamentos, que me tomam em tremenda amargura ao lê-los e relê-los, onde dentro de mim mesmo faço reflexões jamais imagináveis, de tamanha discordância ao que quero. E assim vou vivendo um amor em vida morto.
Marcos Fernandes - há tempos longínquos...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Renascença

Depois de seu ato incompreensível, sentiu na boca um gosto de morte, o que realmente acontecera. Traçou um caminho nada confortável, bastante tortuoso, muito diferente do que imaginava. Tinha uma visão extraordinária em relação à morte, tudo seria lindo, sairia de um plano de sofrimento, de dor, de eterna consternação, e seriam consolados por uma imensa benevolência dos anjos, arcanjos e todas as figuras celestiais que ali o cercariam. Mas não! Depois percebera que era realmente só sua imaginação, sua visão de uma coisa que não se tem certeza ainda em vida. E o tempo que ele levou para pensar nessa beleza de morte, foi o tempo de um simples fechar de olhos, depois de ver a sua vida lhe dando a morte. Fechava os olhos, pois em vida não veria mais, mas piscava os olhos, pois entrava em outro mundo, aquele mundo que achava que era bonito, mundo o qual sorria antes de entrar, e que até hoje o sorriso se faz presente naquele mórbido e imóvel corpo, corroído por vermes que surgiam de dentro para fora, a sua consciência que o corroera antes de qualquer agente terrestre. Mas na verdade, a beleza que lhe parecia fazia sentido, buscara enfim as perguntas para sua resposta, e seria lindo solucionar seus problemas, no entanto buscara a dor, e não encontrara a solução. Percebera então que uma única coisa fazia sentido, a vida! Então se perguntara o porque de ter se matado, o porque de ter sido assassinado por sua própria consciência, se agora sua consciência já era outra? Depois de muito refletir, achara a solução, ou ao menos a charada: sua consciência não mudara, simplesmente renascera diante da morte de quem o matava pouco a pouco.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Uma tarde em novembro de dois mil e oito.

Um dia disseram que era melhor morrer do que deixar de sorrir... Forte engano! A tristeza, assim como a alegria é dos maiores indícios de humanidade... Quimérico, utópico viver sempre em felicidade. O constante torpor em virtude da felicidade é vão. É a tristeza que produz a felicidade, sentimento análogo, desejo incomum, porém um desejo.
A morte! Ah a morte. Sim, ela não é solução, seria no máximo um consolo. Não seria nada catártico. A catarse sim é importante, a expurgação dos sentimentos sim é válida. O problema não está em ser triste, mas sim em não assumir que assim o é.
Se Rimbaud ou Assis fossem plenamente felizes, certamente não seriam Rimbaud e Assis! Até os anjos de Augusto são tristes, mas não deixam de ser belos, nem perdem sua candura.
A tristeza é marca da humanidade.
Policarpo teve seu triste fim, Augusto e seus anjinhos eram tristes. Assis e seu machado eram só tristeza. Os vampiros de Baudelaire choravam lágrimas de sangue e apunhalavam por amor.
Marcos Fernandes - novembro de 2008

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Demasiado desumano

Nada que eu possa falar vai tirar de mim este peso que me consome. Explicação nenhuma no mundo traduzirá o que não se traduz, o que não tem remédio e remediado nunca será. Nada nem ninguém a quem eu procure, tirará do meu peito essa dor, que dói por si só, e por mim mesmo. Minha culpa, minha tão grande culpa, e algo assim nada profetizado foi, não esperava que viesse a ser assim, deveras baixo, demasiado desumano. Assim como uma aventura vã, foi configurando-se uma história de candura, com todos os seus rumores e rubores, ou a falta deles. Mas com certeza fadada ao fracasso. Não há de existir algo de correto no que se inicia errado. Alguma pena deve existir à alguém que assim age, é certo que sim, fatídico e inefável.

A tristeza entra sem pedir licença. Invade avassaladoramente, arranca palavras e gestos, esmigalha sentimentos, arruína corações. Acontece em via dupla, de dentro para fora, de fora para dentro, ocupa todos os espaços vazios, esvazia os espaços preenchidos e os usurpa. Canal direto dos olhos ao coração, enxurradas de lágrimas. Força, coragem e ousadia esvaem-se junto ao pranto.

Sujeito se soubesse do sentimento sentido após seus atos, não os faria. E se fácil assim fosse, menos ainda os faria. Se tal qual profeta ou vidente fosse, e se assim fosse capaz de sentir antecipadamente o que outrora sinto, um terço que fosse, certamente meus atos não teriam sido desmedidos como foram.

E assim como embebedar-se por centelhas de vinho, dou goles de conformismo, mesmo sem querer que assim seja. Parte de mim pede para lutar, outra parte obriga-me à desistir. Resta saber qual parte de mim é maior, qual parte é mais forte. Quando souber do resultado da disputa, espero não ser tarde demais.

Será possível que as escusas existentes, e já catalogadas, bastariam para que pudesse então receber suas bênçãos? É certo que se assim fosse, denotaria ou conotaria talvez, que caso uma dessas desculpas fossem aceitas, fulgás seria, visto que todas as outras não aceitas, não menos fulgás seriam.
Marcos Fernandes - agosto de 2009.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Vous parlez français?

Non? Pas moi. Mais mes mots ne sont pas fonteiras, toujours chercher la vérité dans chaque verset, indépendamment de la langue. Vous pouvez être le mien, peut être la vôtre. Peu importe! Parler!
Ne jamais plier à la faute professionnelle de la tyrannie du silence. Viva!

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Amarração

Uma vez me disseram
para amarrar um poema.
Preferi costurá-lo.
Pego linha e agulha,
e as ponho na ponta da caneta,
e essa me empulha,
a danada da costura
só descostura.
E na tentativa frustrada,
vejo meu texto se transformar em água,
cada gota de letra se esvai,
e no bueiro cai.
E lá se vai aquela bela porcaria,
que um dia me disseram
ser uma boa poesia.


Marcos Fernandes (2004)

terça-feira, 28 de julho de 2009

A tristeza do não saber


Um dia ele chegou tão diferente, mas não do jeito que reza o Chico. Chegou assim bastante diferente de sempre chegar, tristeza era seu nome, ao menos seu apelido, já que sempre estava feliz. Ou será que ele é na verdade um bom farsante? E sendo assim, sua farsa foi abaixo. Não se sabia ao certo o que lhe abatera de tal forma tão arrebatador. O que se sabia, e é certo, pouco tempo levasse, não demoraria para que algo de desastroso acontecesse. Sua conduta mudara radicalmente, abandonando o normal estado de calma que lhe fora roubado pelo desastroso e não menos desconhecido acontecimento.
Todos realmente se questionavam por assistirem tal conduta, o que será que de fato acontecera para tamanha revolta. Debatia-se tal qual enfermo; chorava tal qual recém nascido; berrava como jamais se ouviu. Algo de súbito lhe ocorreu, justo na hora em que decidira se acalmar e abrir seu coração, tão pouco pode completar-lhe a frase: “Demasiado triste estou...”. A morte foi iminente, e fulminante.

domingo, 26 de julho de 2009

Inférteis pensamentos

Ultimamente, eu que tenho ficado um pouco mais disponível ao pensamento, começo a perceber que tenho relutado bastante a pensar. Confesso que seria até mais fácil como antes era, sem o compromisso de trabalhar e receber algo em troca. Engraçado, antes era mais fácil. O pensamento fluía mais facilmente, mas hoje fico pensando que na verdade o que acontecia é que as coisas que pensava eram menos complexas do que penso hoje. Talvez, ou possa ser ledo engano meu. Quiçá, este pensamento de achar que tudo é muito mais complexo do que outrora, seja apenas uma fuga às respostas que já estão na ponta da língua sobre este meu questionamento.
Provavelmente há alguma explicação mais simples, que gaste duas ou três palavras, mas confesso que reluto ao menos a imaginar.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Dia Feliz

Um dia feliz,
Onde as crianças eram mais alegres,
as rosas eram mais rosas,
o verde era mais verde,
o amor se fez amar.
Quando o dia se fez realmente dia.
Esse dia tem que ter acontecido.
Há de acontecer novamente
para tirar a fúria descontrolada
dos incontroláveis corações desobedientes.
Obedeçamos às regras da vida!
Trazer amor ao mundo,
para que as crianças
sejam instrumentos de paz.
Para que sejam alegres como antes eram.
Para tirar a palidez das rosas,
e que do verde vívido
se faça esperança
para viver um amor
adormecido, mas jamais enfraquecido.

Marcos Fernandes

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Caminhada

Ele caminhava e caminhava, e nada encontrava. Começou a correr, correr em busca da escuridão. E então, num medíocre instante, ele tropeçou e caiu no chão furando os dois olhos e finalmente achou a escuridão. Mas ele ainda não estava satisfeito, faltava-lhe ainda alguma coisa. Ele ainda não tinha certeza do que faltava, mas sabia que não podia seguir, o medo o consumia, arranhava sua alma que gritava desesperadamente, a angustia estava tomando conta, e o seu medo não era nada comparado à dor que sentia agora, era algo que roubava toda a sua alegria e transformava tudo ao seu redor em tristeza, morbidez e agonia, então ele se levanta e continua. Continua sem direção. Numa vertigem ele mergulhava desesperado, buscando alívio para a sua infinita agonia, e o frêmito nervoso que o tomou de súbito percorreu todo o seu corpo já despedaçado por séculos de uma procura inútil num vôo rasante por sobre a mediocridade humana... E de repente, em meio à profusão insone de pensamentos desmedidos, finalmente que atracara num porto calmo, o barco quimérico da segunda oportunidade que esperou por milênios, então com aquela arma em punho encontrou-se finalmente consigo mesmo, pois, abandonando a pena, chave da alma dos poetas, preferiu o fogo, chave das portas do mundo, pois quando se manda uma bala no peito de um homem, é como se ele mesmo entrasse nesse peito, e o peito do homem... É o mundo!

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Dia cinza

Hoje o dia amanheceu mais escuro... senti um sutil tom de cinza no céu. Não ouvi pássaros cantarem... o mar estava levemente revolto! Um peso terrível em meu corpo, algo me corroia por dentro... Quisera eu saber o que me tomava. Antes não soubesse! Ela se vai, mas junto com ela meu coração... O mundo vai continuar cinza. Pobres dos pássaros, ficarão eternamente tristes sem cantar... E como uma providência divina, clarear o mundo irei, assim como irei embora para nunca mais ver a fúria do mar... Que os pássaros me sigam, mesmo que de vez em quando caia um pardal! Se não for agora, será depois. Se não for depois, será agora. E se não for agora, então será depois...

terça-feira, 10 de março de 2009

Divino humano imperfeito

Sentado no trono estava enquanto tomava sua decisão. E aquele falso rei decide que só tem um poder: o de pensar! Suas ações são conseqüência de seus pensamentos, desde que estas ações não interfiram na maneira de pensar de qualquer ser de duas pernas, que ainda tenha o horrível orgulho de se dizer humano.
Viu então o que ele tanto desejava, e se mortificava, não era competente a ele decidir, não mais, ao menos, tratava-se de uma decisão divina, talvez, já que cabia a ela a seguinte frase: você na terra, no céu, e em qualquer outro lugar também. Uma divindade mesmo, sua divindade.
O que ele podia fazer a mais no caso era simplesmente não fazer mais nada, sei lá! Quem pudera então fazer algo? E ao fazer essa pergunta, a resposta vem como um estalo em sua mente. No medíocre instante do desespero, são às divindades que se recorre. Então foi isso que ele fez! Fez suas ridículas preces imaculadas e insanas na tentativa maluca de se atrever ao absurdo: tornar o divino impuro pelas mãos do homem, mãos daquele homem.
Um passo à frente e já não está mais no mesmo lugar”. Estava num abismo, e então entendeu a hora de recuar. Entendeu o exato momento em que dar um passo atrás é o mais fácil a se fazer. A menos que abaixo do abismo tenha um rio profundo que se possa mergulhar, nadar, cair de cabeça e ainda sair com a mesma encima dos ombros.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O amor

Não vou falar de sonhos ou utopias possíveis ou impossíveis, muito menos de pensamentos puramente otimistas. Não vou falar dos sofrimentos de minha vida, das coisas que vivi, nem das que queria ter vivido. Não vou falar de quantas vezes disse nunca, talvez ou quase... Não vou falar das minhas redenções, muito menos de minhas vitórias. E sobraria quase nada para falar, mas ainda assim tenho algo para dizer...Vou falar sobre o amor, não com paisagens bucólicas, ou com juras infinitas, muito menos com sonhos inalcançáveis por conta de pensamentos demasiadamente otimistas; vou falar do amor cordial que há entre duas pessoas de mais de meio século de idade, que mesmo tendo passado maior parte de suas vidas um com o outro, ainda encontram algo de novo num olhar que cruzam. O amor, puro, simples e exclusivo amor. Vai ver cruzaram na rua, ou numa festa e se apaixonaram, ou passaram anos morando lado a lado, e boa parte deles com vergonha de dizer que se gostam.
Mas talvez ele saia um dia, volte tarde, embriagado, e ela diga: - “Não te agüento mais!” E tudo se acabe. Ou talvez ela diga: - “Entra homem, vai tomar um banho que eu vou te fazer um café!”
Ou ainda talvez, ela desista de cozinhar porque já faz isso há anos e está cansada, e ele diga: - “Cansou?! Então vou procurar alguém que queira!” E tudo se acabe. Ou talvez ele diga: - “Meu amor! O prato de hoje é macarronada! Foi o que deu para fazer, mas amanhã, quem sabe um estrogonofe?”
Um sentimento os une, mas suas ações os definem para o resto da vida enquanto ela houver.
Já me disseram: - “A vida é larga, comprida e besta!”

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Greve de pensamento


Desculpem-me todos os leitores, mas hoje estou em greve... impessibilitado de pensar... ao menos de escrever meus pensamentos, quarta-feira surgirá uma nova postagem! Obrigado...

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

O que é uma coisa?

Em se falando de uma coisa, supondo eu que tal coisa esteja correta, isso abrange uma gama de coisas, de casos particulares para cada coisa. O assunto da “coisa” está diretamente ligado aos juízos. Podemos atribuir juízos de realidade, sendo a essa coisa atribuída alguma característica física e de consenso não pessoal, e sim, comum a todos, ou os inevitáveis juízos de valor, onde atribuímos certas qualidades às vezes bastante pessoais, variáveis de um ser a outro, de acordo com sua maneira de pensar, e de ver as coisas do mundo em que vive.
Podemos fazer de tal coisa avaliações estéticas, de utilidade, de moral, de sendo isso um bem vital, ou de valor religioso. Avaliamos de acordo com o juízo que atribuímos às coisas, sendo ele de realidade ou de valor.
Mas quanto a julgar se tal coisa é correta, como poderíamos fazê-lo, se pensamos diferentemente? Como atribuir conceitos, normas, padrões a uma coisa tão complexa? Como se chegar a pensar em uma coisa? Cada coisa tem seu conceito, mas a coisa em si é inconceituável.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Camarão importado

É.... e ele inesperadamente sorriu. Sorriu sim! Aquele mesmo sorriso amarelo e sem graça de tempos atrás. Não que ele não tentasse ou que fosse questão cultural, é que ele era sem graça mesmo. E o sorriso não era amarelo por ele simplesmente ser desprovido de humor, é que o infeliz era quase transparente, vivia num estado de anemia constante, mas aí confesso que não é questão patológica, e sim geográfica mesmo. O maldito era inglês, autêntico, com selinho e tudo mais. Daqueles que fica parecendo um camarão quando vai à praia, e esse fica mais importante para os malandros, um objeto de status: camarão importado!
Acho que da última vez que esteve aqui comigo, só levou vantagem para os outros “camaroeszinhos”, por saber umas vinte outras palavras que não fossem: caipirinha, brazil, mulata, carnaval, legal e samba; e diga-se de passagem que nessa última não levava vantagem alguma, era duro como uma pedra. Nessa mesma vez, fomos a um forró logo aqui longe de casa, e esse dia foi um dos mais engraçados, não para ele, com toda certeza, até porque não podemos esquecer de que ele não é nada engraçado, o fato é que a cada “dois pra lá”, ele dava “três pra cá”, demonstrando ser um antro de coordenação às avessas.
O mais engraçado foi que eu estava sentado à mesa do bar, quando vi um rapaz aproximando-se de uma bela mulata, então ela a chama para dançar. Na primeira pisada de pé que ele deu, a danada da mulata deu-lhe um tapa e deixou o coitado sozinho na pista. E você se pergunta: - “O que tem de tão engraçado nisso?” – é, mas acontece que de repente, o camarão, que era um tanto quanto desastrado por natureza, passou pela mulata, deu um chute na mesa, derrubou os copos, e então esperou aprender um novo palavrão, mas surpreendentemente a mulata riu um sorriso falso, chamou-o para sentar e ainda perguntou se ele estava bem. Talvez a altura, os olhos azuis, os cabelos loiros, a pele branca (que não estava tão branca porque estivemos na praia mais cedo), tenham afetado o sistema emocional da mulata, que fez com que ela ficasse comovida com aquele desastre. E logo depois de toda essa confusão, ele conseguiu praticar seu vocabulário; ela disparou milhões de perguntas, – “Você está bem?” – “Quer que eu ajude?” – “Você está ferido?” – “Quer beber alguma coisa?”... E ele então só conseguiu dizer: – “Legal”.
Acho que foi nesse dia que ele aprendeu a palavra gostosa. Ele me chamou para sentar à mesa com eles, me puxou de lado e me perguntou o que dizer, e então eu não podia perder a oportunidade de brincar, disse para chamá-la de morena gostosa; pensando eu que ele levaria um “beautiful” tapa, mas para meu engano, ela se derreteu com aquele sotaque enrolado, pegou na coxa dele e disse: – “Meu gringo lindo!”. Eu fiquei indignado, um dia eu chamei uma morena de gostosa, e ela, além do tapa, inteligentemente me disse: – “Sou gostosa mesmo, mas você jamais irá provar!”

domingo, 18 de janeiro de 2009

Contador de corpos

Um dia desses eu vi uma reportagem que dizia que vários governos Estaduais do Brasil estavam implantando um contador de impostos. O dito contador, afere em tempo real, o recolhimento das tributações pagas ao governo. Interessante! Assim podemos saber o quanto estamos pagando ao governo através do consumo. Bom, assim pensei... Mas ao refletir sobre o caso, logo escutei o comentário: "é bom mesmo, porque só assim a gente sabe o quanto está sendo roubado." - Para não parecer muito hostil, mudo este comentário passando para minhas palavras: "é bom mesmo, só assim sabemos o quanto pagamos e podemos ponderar o quanto em benefícios estamos recebendo." (um pouco mais sutil, mais lírico...).
No Brasil, morrem mais pessoas do que em guerras, talvez fosse interessante o governo colocar em cada praça um contador de corpos, contabilizando cada baixa humana nesta guerra civil em que vivemos, talvez surta algum efeito, talvez algum famigerado deixe de cometer um latrocínio para pedir pacientemente um emprego enquanto seus "famigeradinhos" choram de fome, talvez um grande traficante de drogas europeu enquanto passa férias em nosso paraíso tropical (paraíso?), ao ver o novo contador e corpos, se comova e decida fechar a sua rentável agência de "viagens" (viagem esta, muitas vezes sem volta). Talvez os motoristas que bebem e dirigem, quando sentados na mesa do bar, ao verem o contador girar, se conscientizem e vão de táxi... Talvez... Talvez não...

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Renascença

Depois de seu ato incompreensível, sentiu na boca um gosto de morte, o que realmente acontecera. Traçou um caminho nada confortável, bastante tortuoso, muito diferente do que imaginava. Tinha uma visão extraordinária em relação à morte, tudo seria lindo, sairia de um plano de sofrimento, de dor, de eterna consternação, e seriam consolados por uma imensa benevolência dos anjos, arcanjos e todas as figuras celestiais que ali o cercariam. Mas não! Depois percebera que era realmente só sua imaginação, sua visão de uma coisa que não se tem certeza ainda em vida. E o tempo que ele levou para pensar nessa beleza de morte, foi o tempo de um simples fechar de olhos, depois de ver a sua vida lhe dando a morte. Fechava os olhos, pois em vida não veria mais, mas piscava os olhos, pois entrava em outro mundo, aquele mundo que achava que era bonito, mundo o qual sorria antes de entrar, e que até hoje o sorriso se faz presente naquele mórbido e imóvel corpo, corroído por vermes que surgiam de dentro para fora, a sua consciência que o corroera antes de qualquer agente terrestre. Mas na verdade, a beleza que lhe parecia fazia sentido, buscara enfim as perguntas para sua resposta, e seria lindo solucionar seus problemas, no entanto buscara a dor, e não encontrara a solução. Percebera então que uma única coisa fazia sentido, a vida! Então se perguntara o porque de ter se matado, o porque de ter sido assassinado por sua própria consciência, se agora sua consciência já era outra? Depois de muito refletir, achara a solução, ou ao menos a charada: sua consciência não mudara, simplesmente renascera diante da morte de quem o matava pouco a pouco.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Falso Moralismo

O mundo caminha para uma total inversão de valores, com direito a frases clichês de pessoas nostálgicas e ainda boas em sua essência, tais como: - "Não se fazem mais pessoas como antigamente!" A palavra e a questão é esta mesmo, fazer, fazer pessoas! Uma vez que se tem valores totalmente infundados, sem idéia de construção de família, do bem ao próximo, da boa vontade, dá fé em sua essência (a crença em si próprio ou das coisas que pode fazer para ser melhor e/ou das coisas que pode fazer aos outros que o cercam).
E tudo isso caminha para o desprezo que o ser humano tem consigo mesmo. Não como uma depressão coletiva, até porque esse desprezo é às vezes inconsciente, mas bastante relevante, que faz com que as pessoas entrem num processo de autoflagelação diária, contínua e bastante agressiva, que não é perceptível a si próprio, mas às vezes aos outros. E quando isso vem se tornar bastante evidente, a pessoa se vê em cima de uma cama, ou em inúmeras situações humanamente desagradáveis ou insuportáveis, repetindo incessantemente: - "O que eu fiz para merecer isso?!", - "Onde foi que eu errei?!" E então lembramos Shakespeare: "Morrer, dormir... Dormir! Talvez sonhar! É ai que bate o ponto! O não sabermos que sonhos poderão trazer o sono da morte, quando enfim desenrolarmos todo um passado cruel".
E nesse mundo de sonhos, começa-se a engajar em falsas ideologias, pregando o que não é, nem foi ou poderá ser um dia. Dizer de boca cheia que não se deve queimar matas, e jogar o fósforo que ascendeu o cigarro no chão, é o mesmo que procurar um prego solto no chão de uma sala escura: uma hora se acha, mas quando furar o pé pisando em cima dele.
E tudo isso, por ignorância talvez, ou por pura arrogância mesmo, muitos têm a idéia de falso poder, imaginando ter o aval de fazer o que se bem entende, e ainda assim lançar palavras de falsa modéstia e ter a enorme soberba quando lhe convém, de proferir a mais uma frase clichê: - "Você sabe com quem está falando?!" E o único ponto otimista é quando alguém tem a coragem de dizer: - "Sei... um pobre coitado!" E dentre tantos clichês, também virou clichê ser humano, o que se tenta agora é ser gente!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O passar das horas eternas

Atendendo a pedidos, o tema será poesia, e em homenagem a este momento de virada de ano (que ao meu ver é apenas “um dia após o outro” que finaliza um ciclo e desencadeia um novo), apresento à vocês uma poesia que fiz há um certo tempo atrás.


O passar das horas eternas

Sono na inquieta primeira noite de janeiro.
Rumores correm à cidade sobre o paradeiro
Da última quimera de dezembro
– Onde ela está? – Diz o poeta: “nem me lembro”!

O desespero corre a solta!
De lado a lado rumam os desejos.
Sinos na cidade revolta,
Malucos distribuindo beijos.

Todos se matam atropelados.
Presságios de uma cidade morta,
Deixando desesperados
Os que seguem o profeta da palavra torta.


Marcos Fernandes


É certo que poesias não se explicam, que me perdoem os ótimos professores de literatura que tive, e aos que não tive também e cumpriram tão bem o seu dever, mas ainda assim direi algo sobre esta poesia, não sobre em que movimento literário ela se enquadra, ou qual a fonte de inspiração, ou qualquer outro tipo de qualificação ou classificação... A poesia retrata uma cena de fim de mundo, as profecias que são feitas a respeito, e que dizem que este será na virada do século passado, neste, ou no próximo... E que no final das contas, o mundo não acaba, ao menos não assim catastroficamente como rezaram os pergaminhos. O mundo vai se acabando aos poucos, com os seus próprios inquilinos, que não percebem o que fazem, e preferem seguir as “palavras tortas de um profeta”. É a representação total da discrepância entre o verdadeiro e o falso.