Não vou falar de sonhos ou utopias possíveis ou impossíveis, muito menos de pensamentos puramente otimistas. Não vou falar dos sofrimentos de minha vida, das coisas que vivi, nem das que queria ter vivido. Não vou falar de quantas vezes disse nunca, talvez ou quase... Não vou falar das minhas redenções, muito menos de minhas vitórias. E sobraria quase nada para falar, mas ainda assim tenho algo para dizer...Vou falar sobre o amor, não com paisagens bucólicas, ou com juras infinitas, muito menos com sonhos inalcançáveis por conta de pensamentos demasiadamente otimistas; vou falar do amor cordial que há entre duas pessoas de mais de meio século de idade, que mesmo tendo passado maior parte de suas vidas um com o outro, ainda encontram algo de novo num olhar que cruzam. O amor, puro, simples e exclusivo amor. Vai ver cruzaram na rua, ou numa festa e se apaixonaram, ou passaram anos morando lado a lado, e boa parte deles com vergonha de dizer que se gostam.
Mas talvez ele saia um dia, volte tarde, embriagado, e ela diga: - “Não te agüento mais!” E tudo se acabe. Ou talvez ela diga: - “Entra homem, vai tomar um banho que eu vou te fazer um café!”
Ou ainda talvez, ela desista de cozinhar porque já faz isso há anos e está cansada, e ele diga: - “Cansou?! Então vou procurar alguém que queira!” E tudo se acabe. Ou talvez ele diga: - “Meu amor! O prato de hoje é macarronada! Foi o que deu para fazer, mas amanhã, quem sabe um estrogonofe?”
Um sentimento os une, mas suas ações os definem para o resto da vida enquanto ela houver.
Já me disseram: - “A vida é larga, comprida e besta!”